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Vai morar na Venezuela

Na hora de escolher entre sua própria população e Wall Street, o governo socialista da Venezuela tem optado pelo segundo — pelo menos no que diz respeito ao destino das suas reservas em moeda estrangeira.

O país rico em petróleo paga em dia os detentores de títulos da sua dívida soberana, mas o governo deve cerca de US$ 50 bilhões a empresas do setor privado que atuam em sua economia.

Entre elas, estão prestadoras de serviço do setor petrolífero, companhias aéreas e redes de supermercados locais, que precisam de dólares para importar grande parte de suas mercadorias.

Os atrasos dos pagamentos em moeda estrangeira ao setor privado se dão ao mesmo tempo que o governo intensifica os controles no câmbio adotados há mais de dez anos pelo líder populista Hugo Chávez, que tentou conter uma crescente demanda por dólares em um país altamente dependente de importações. O resultado: a falta generalizada de produtos básicos.

A situação é irônica para um governo que regularmente critica o capitalismo, primeiramente sob a liderança de Chávez e agora sob a batuta de seu sucessor, Nicolás Maduro.

"Eles não pagaram empresas do setor privado porque sentem que o custo de não fazê-lo é administrável, mas continuam pagando os títulos de dívida soberana", diz Asdrubal Oliveros, chefe da consultoria Ecoanalítica. Ele se refere à atitude como uma moratória seletiva. "A população sofre com as consequências da escassez", acrescenta Oliveros.

Os fundos que investem em títulos de dívida venezuelanos recebem os maiores rendimentos entre os ativos que compõem o Índice Global de Títulos de Mercados Emergentes do banco J.P. Morgan, JPM +0.21% maiores até que os da dívida de países como a Argentina e o Equador que, ao contrário da Venezuela, já declararam moratória no passado. Os títulos venezuelanos no índice rendem em média mais de 16% ao ano, em média, comparado com menos de 11% da Ucrânia. "Por um longo tempo, as pessoas viram a Venezuela como [um país com] ativos livres de risco, onde elas podiam estacionar seu dinheiro e embolsar os retornos", diz Casey Reckman, analista do banco Credit Suisse. CSGN.VX +0.29%

Qualquer inadimplência nos seus mais de US$ 60 bilhões em títulos de dívidas poderia transformar a Venezuela em um pária internacional, excluindo-a do mercado de crédito do qual ela depende para manter sua indústria do petróleo funcionando, que responde hoje por 96% da receita em moeda forte do país.

Portanto, enquanto os detentores de bônus são pagos, muitas empresas na Venezuela não são.

As dívidas vencidas com empresas do setor privado incluem US$ 14 bilhões a fornecedores e prestadores de serviços do setor de petróleo, US$ 9 bilhões a importadores e mais de US$ 4 bilhões a empresas do setor de serviços como companhias aéreas, segundo estimativas da Econalítica. Também há mais de US$ 10 bilhões em lucros que empresas estrangeiras que operam no país planejavam converter de bolívares a dólares, mas que não conseguem fazê-lo desde 2008. As dívidas com as empresas já se multiplicaram por sete desde 2008.

As fábricas foram duramente atingidas. A produção de automóveis caiu quase 85% em janeiro em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo a associação que representa as montadoras. A subsidiária venezuelana da Toyota Motor Corp. 7203.TO -1.32% , por exemplo, anunciou que suspenderia temporariamente suas operações ontem, devido à dificuldade em obter peças.

A notícia levou Maduro a acusar a montadora japonesa, em um discurso no fim de semana passado, de ter "motivos políticos". "A única coisa que esses pequenos gestores querem é dólares, dólares e mais dólares", disse ele. Não foi possível localizar representantes da Toyota na Venezuela para comentar sobre o assunto.

O grande prejudicado, dizem economistas, é o povo venezuelano, que precisa vasculhar a cidade à procura de fórmulas infantis e frango em uma economia onde um em cada quatro produtos não pode ser encontrado nas prateleiras porque o governo não distribui uma quantia suficiente de dólares.

Antonio González, que compra produtos no atacado para padarias em Caracas, diz que vê brigas constantes entre consumidores nos supermercados disputando itens básicos escassos como farinha, manteiga e açúcar. Ele enfrenta os engarrafamentos da cidade quase todo dia, comprando qualquer ingrediente que consegue encontrar. "A situação, na verdade, está pior agora para as padarias do que estava no ano passado", diz González.

Num bairro de classe alta da capital, as lojas exibem cartazes com o limite máximo de pão que pode ser comprado. Fazer compras em supermercados pode virar um empurra-empurra quando chegam carregamentos de papel higiênico.

Wilmer Sánchez, gerente de uma oficina mecânica em Caracas, diz que recentemente teve que devolver um Toyota Corona ao seu dono depois de ter mantido o carro um ano na oficina esperando por peças para o airbag que ele nunca encontrou. "Se você não consegue comprar as peças, o que pode fazer?".

Apesar dos preços elevados do petróleo, o governo da Venezuela tem vivido uma hemorragia financeira e calcula ter perdido cerca de US$ 20 bilhões em divisas devido a fraudes e corrupção em sua agência de câmbio no ano passado. Em muitos casos, os dólares são comprados pelo câmbio oficial por empresas de fachada, a uma taxa fixa de 6,3 bolívares por dólar, e depois vendidos no mercado negro, onde valem 12 vezes mais.

O vice-ministro de Economia, Rafael Ramírez, anunciou planos para cortar em US $ 3 bilhões o montante de dólares subsidiados que o Estado vai disponibilizar aos venezuelanos que viajarem ao exterior este ano. O governo, disse ele, precisava decidir se financiaria os viajantes ou a importação de alimentos e medicamentos. Ramírez acrescentou que as dívidas com empresas privadas também precisam ser negociadas, sem oferecer nenhuma garantia de que o governo vai pagar tudo o que essas empresas afirmam que lhes é devido.

Ele também tem procurado reconfortar os investidores, dizendo que a Venezuela "nunca falhou nem vai falhar no cumprimento de qualquer de suas obrigações em relação à sua dívida externa".

Ainda assim, Miguel Octavio, que administra US$ 500 milhões em ativos para clientes venezuelanos na BBO Financial, em Caracas, diz que parou de investir em títulos de dívida do país depois que Maduro assumiu o cargo. "Eu pressentia que iria haver mais controle do Estado, mais das mesmas políticas", diz ele, que é diretor-presidente da BBO Financial. "É bom dizer que você não vai declarar moratória, mas dois ou três anos depois, quando você não pode sequer alimentar o seu próprio povo, o que vai fazer?" Fonte The Wall Street Journal.

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